sábado, 16 de abril de 2011

new decade. new rules.


Onze anos depois e me vi correndo – literalmente – para o cinema, ansioso como uma criança, para assistir à “Pânico 4”. Quem me conhece sabe o quanto a trilogia “Scream’ foi celebrada e assistida à exaustão por mim nos meus anos de adolescência. Se alguém me dissesse lá atrás, perto do lançamento do terceiro filme que Wes Craven faria um novo capítulo eu diria que a pessoa estava louca! Arrisco dizer que até ficaria ofendido: “Pânico não é como uma franquia qualquer, que vai se afundar em sequências inacabáveis e sem sentido! A proposta era fazer uma trilogia, e a coisa está acabada!”. Eu estava errado: Craven fez um outro capítulo. Mas eu estava certo também: não é uma sequência qualquer.


Dewey, Sidney e Gale estão de volta.

Para começar é preciso sublinhar o fato de que todos os major players estão de volta: Craven na direção, Neve Campbel, David Arquete e Courtney Cox (que agora volta a ser só Cox, já que se divorciou de David no ano passado) como o trio principal e, muito importante: Kevin Willianson no roteiro. “Scream 3”, de 2000 foi o único da série que Willianson não assinou, passando o bastão para Ehren Kruger por questões de agenda e isso, com o perdão do trocadilho, gritava em tela, fazendo do filme o mais fraco da série. É verdade que todos só devem mesmo ter topado voltar para um quarto filme pois de fato nenhum deles se consagrou como A team de Hollywood e o cheque assinado pela Dimension FIlms deve ter sido altíssimo. Mas nada disso importa: eles estão de volta e entregam o que queremos ver.


A trama leva nossos personagens de volta à Woodsboro. Sidney está de passagem por sua cidade natal para divulgar o livro de auto-ajuda que escreveu apos ter superado tantos eventos traumáticos. Gale e Dewey, agora xerife, levam uma pacata vida de casados. A ex-reporter tenta agora uma frustrada carreira como escritora de ficção. Acontece que a visita de Sidney coincide com o aniversário do chamado massacre de Woodsboro (os eventos relatados no primeiro filme da série) e não poderia haver pretexto melhor para que surja um novo maníaco por trás da máscara do Ghostface tentando fazer o seu filme de terror particular. Somos apresentados a toda uma nova geração de personagens, tendo Jill (personagem de Emma Roberts), prima de Sidney, como figura principal. Seus amigos de high school são a nova leva de vítimas a serem aniquiladas nos 110 minutos de filme – são 21 mortos no total!


A formula é bem batida e já sabemos o que esperar, mas o legal é que em “Pâncio 4”, isso funciona a favor do filme. A série tem na sua raiz a auto-referencia; é isso que fez “Pânico” tão espetacular em 96. O filme destrinchava a estrutura dos filmes de terror enquanto se utilizava exatamente dos elementos que expunha para contar sua história. Isso sempre esteve presente na franquia e, é bom ver, continua super marcante no novo filme também. A grande diferença, é que a auto-referência virou auto-paródia. Enquanto o primeiro e segundo filmes conseguiam ser bem assustadores, a partir do terceiro a série meio que virou casaca: passou a ser mais cômica do que assustadora. Eu não vejo problema nenhum nisso. Acho, aliás, bem inteligente. Ao invés de uma tentativa frustrada de fazer um filme de terror que não dá medo, temos aqui um filme super divertido de se assistir. Os sustos continuam lá e a violência em tempos de torture porn é bem mais explícita; mas não são o grande barato do filme. O legal são são as inúmeras inside jokes e a listagem das regras que, como havia de se esperar, dessa vez dizem respeito a re-boots de franquias.  “O inesperado é o novo clichê”, diz o personagem de Rory Culkin.

A nova geração de vítimas em matéria da Entertainment Weekly.

Willianson conhece sua platéia e sabe o que está fazendo. Entrega uma genial sequência de abertura, obrigatória em um filme da série desde a insuperável  morte de Drew Barimore em Pânico. Cheia de participações especiais super divertidas (fãs de True Blood vão adorar) a cena de abertura diz muito sobre o tom de “Pânico 4”: surpreendende, engraçadíssima e cheia de sustos. Passado o letreiro inicial, vemos Willianson e Craven modernizarem a franquia trazendo inúmeras gadgets tecnológicas para dentro da trama: temos live streamings, iPhones a rodo, inúmeras menções ao Facebook e Twitter e, sobretudo, um Ghostface que desta vez grava sua matança em vídeo para, de fato, fazer um filme. “

Para mim o filme acerta em quase tudo, mas escorrega feio nos momentos em que deixa a comédia não só permear,mas de fato conduzir o filme. As piadas providas da ironia são muito mais divertidas do que as escritas de fato como punch-lines exageradas e em alguns momentos a coisa soa um pouco pastelão de mais. Uma das grandes responsáveis por isso é Courtney Cox, que entrega uma Gale Weathers totalmente exagerada e caricata, que ecoa sua quarentona-pateta da série “Cougar Town”, da qual é a atualmente protagonista. On a side note: se em “Pânico 3” era impossível de se explicar o corte de cabelo dela, aqui não há o que justifique a quantidade de plásticas que literalmente deformaram o rosto da atriz; este sim, aspecto genuinamente assustador de “Pânico 4”!


O resultado portanto, faz jus ao legado da série. Os elementos indispensáveis à essência da série estão todos lá: os mesmos personagens, muitas referencias ao gênero, auto-paródia, sustos e talvez o final mais surpreendente da franquia. É difícil prever o quanto o filme funcionará para platéias  que cresceram tendo “Jogos Mortais” como modelo de filme de terror e para aqueles que não sejam letrados no universo de “Pânico”, já que muito da graça está em achar as mil auto-referencias que pipocam em tela e o filme não me parece assustador ou violento o suficiente para agradar puramente como filme de terror. “Pânico 4” não é tenso e assustador mas sim divertido e prazeroso, o que para mim, já fora dos meus anos de adolescência, é bem mais legal!



Site oficial: http://www.scream-4.com/