terça-feira, 22 de novembro de 2011

desaparecidos, o filme.



Depois de muito trabalho e muito auto-controle para não gritar a verdade para todo mundo, na última sexta-feira finalmente revelamos para o mundo o DESAPARECIDOS.
O projeto nasceu da incessável mente do meu querido diretor David Schürmann. Há mais ou menos 18 meses atrás, inspirado pelo caso do “cala boca Galvão”, que virou fenômeno no Twitter. Depois de ver vários amigos gringos super chocados achando que os brasileiros estavam de fato se mobilizando na internet para causar a extinção de um pássaro (haha), o David se deu conta de como as coisas, uma vez on-line, são tomadas como fato. Juntando isso à constatação de que no Brasil não ha muito cinema produzido para o público adolescente, ele teve resolveu pegar a idéia maluca de fazer um filme de terror e lançá-lo usando as mesmas ferramentas que o deram a idéia in the first place. Ah, claro, sem grana alguma!
O próximo passo foi reunir uma equipe que fosse entusiasmada e louca o suficiente para comprar a idéia com ele e tirar o projeto do papel. Eu entrei nessa história em Novembro do ano passado, quando me preparava para vir fazer meu mestrado aqui na Inglaterra.
Quem me conhece sabe que sempre fui doido por filmes de terror e suspense. Nos meus anos de pré-adolescência tive uma experiência ótima criando e executando o meu próprio longa de terror, “Tensão”, superinfluenciado pela trilogia “Pânico” e os a nova geração de slashers que  ela gerou nos anos 90.  No filme, editado em esquema beeeem arcaico (ligando um VHS no outro e usando e abusando de muitos PLAY + RECs!), todos os meus queridos amigos/ atores eram brutalmente assassinados por um vilão mascarado. Super divertido de fazer! Imaginem a minha empolgação então quando o David me convidou para um jantar para conversar sobre um projeto secreto que estava desenvolvendo e me contou finalmente o que era o “Desaparecidos”, me chamando para entrar na equipe do filme como editor.
Topei entrar na dança, mas confesso que não imaginava o quão bacana seria fazer parte desse projeto. A natureza totalmente independente do filme é o que fez ser tão legal fazer parte da “família D”, como nos chamávamos entre nós – equipe e elenco. Todos mundo só estava envolvido por que acreditava DE VERDADE no projeto e fazia sua parte com muita vontade! Foi genial! Acabei indo para as filmagens com eles (algo super raro para um editor) e me jogando com todos no meio da mata de Ilhabela em madrugadas chuvosas cheias de gritos, lama e muita boa energia! 
Fiquei editando o filme mais ou menos 2 meses no Brasil e, chegada a hora de me mudar para cá, trouxe comigo um HD e continuei o trabalho daqui. Foram mais 5 meses de infindáveis uploads de cortes novos e reuniões no Skype para chegarmos, 14 cortes depois, no resultado final.
Paralelamente, o pessoal da Schürmann trabalhava a toda mantendo perfis falsos dos personagens no Facebook e interagindo com milhares de pessoas. Nos últimos meses, agora na reta final, entrou em ação a campanha viral propriamente dita, com a criação da festa “Luz, Câmera, Party” (evento raíz do plot no filme), a divulgação do desaparecimento dos nossos personagens – reais no Face – e, agora, a campanha do filme propriamente dito.
Foi muito especial fazer parte desse projeto e espero de verdade que as pessoas se interessem em ir ao cinema prestigiar essa idéia tão inovadora para os moldes do cinema brasileiro. Eu garanto sustos, muita tensão e algumas risadas também.
E, como o filme é de verdade 100% independente e se apoia justamente no conceito de discutir o papel da internet na nossa sociedade, contamos com a ajuda de todos para divulgar esse projeto tão especial, que tiramos do papel com muito esforço e, importante, muita vontade e alegria.
Bons gritos, amigos!
DESAPARECIDOS: 9 DE DEZEMBRO NOS CINEMAS! 





sábado, 16 de abril de 2011

new decade. new rules.


Onze anos depois e me vi correndo – literalmente – para o cinema, ansioso como uma criança, para assistir à “Pânico 4”. Quem me conhece sabe o quanto a trilogia “Scream’ foi celebrada e assistida à exaustão por mim nos meus anos de adolescência. Se alguém me dissesse lá atrás, perto do lançamento do terceiro filme que Wes Craven faria um novo capítulo eu diria que a pessoa estava louca! Arrisco dizer que até ficaria ofendido: “Pânico não é como uma franquia qualquer, que vai se afundar em sequências inacabáveis e sem sentido! A proposta era fazer uma trilogia, e a coisa está acabada!”. Eu estava errado: Craven fez um outro capítulo. Mas eu estava certo também: não é uma sequência qualquer.


Dewey, Sidney e Gale estão de volta.

Para começar é preciso sublinhar o fato de que todos os major players estão de volta: Craven na direção, Neve Campbel, David Arquete e Courtney Cox (que agora volta a ser só Cox, já que se divorciou de David no ano passado) como o trio principal e, muito importante: Kevin Willianson no roteiro. “Scream 3”, de 2000 foi o único da série que Willianson não assinou, passando o bastão para Ehren Kruger por questões de agenda e isso, com o perdão do trocadilho, gritava em tela, fazendo do filme o mais fraco da série. É verdade que todos só devem mesmo ter topado voltar para um quarto filme pois de fato nenhum deles se consagrou como A team de Hollywood e o cheque assinado pela Dimension FIlms deve ter sido altíssimo. Mas nada disso importa: eles estão de volta e entregam o que queremos ver.


A trama leva nossos personagens de volta à Woodsboro. Sidney está de passagem por sua cidade natal para divulgar o livro de auto-ajuda que escreveu apos ter superado tantos eventos traumáticos. Gale e Dewey, agora xerife, levam uma pacata vida de casados. A ex-reporter tenta agora uma frustrada carreira como escritora de ficção. Acontece que a visita de Sidney coincide com o aniversário do chamado massacre de Woodsboro (os eventos relatados no primeiro filme da série) e não poderia haver pretexto melhor para que surja um novo maníaco por trás da máscara do Ghostface tentando fazer o seu filme de terror particular. Somos apresentados a toda uma nova geração de personagens, tendo Jill (personagem de Emma Roberts), prima de Sidney, como figura principal. Seus amigos de high school são a nova leva de vítimas a serem aniquiladas nos 110 minutos de filme – são 21 mortos no total!


A formula é bem batida e já sabemos o que esperar, mas o legal é que em “Pâncio 4”, isso funciona a favor do filme. A série tem na sua raiz a auto-referencia; é isso que fez “Pânico” tão espetacular em 96. O filme destrinchava a estrutura dos filmes de terror enquanto se utilizava exatamente dos elementos que expunha para contar sua história. Isso sempre esteve presente na franquia e, é bom ver, continua super marcante no novo filme também. A grande diferença, é que a auto-referência virou auto-paródia. Enquanto o primeiro e segundo filmes conseguiam ser bem assustadores, a partir do terceiro a série meio que virou casaca: passou a ser mais cômica do que assustadora. Eu não vejo problema nenhum nisso. Acho, aliás, bem inteligente. Ao invés de uma tentativa frustrada de fazer um filme de terror que não dá medo, temos aqui um filme super divertido de se assistir. Os sustos continuam lá e a violência em tempos de torture porn é bem mais explícita; mas não são o grande barato do filme. O legal são são as inúmeras inside jokes e a listagem das regras que, como havia de se esperar, dessa vez dizem respeito a re-boots de franquias.  “O inesperado é o novo clichê”, diz o personagem de Rory Culkin.

A nova geração de vítimas em matéria da Entertainment Weekly.

Willianson conhece sua platéia e sabe o que está fazendo. Entrega uma genial sequência de abertura, obrigatória em um filme da série desde a insuperável  morte de Drew Barimore em Pânico. Cheia de participações especiais super divertidas (fãs de True Blood vão adorar) a cena de abertura diz muito sobre o tom de “Pânico 4”: surpreendende, engraçadíssima e cheia de sustos. Passado o letreiro inicial, vemos Willianson e Craven modernizarem a franquia trazendo inúmeras gadgets tecnológicas para dentro da trama: temos live streamings, iPhones a rodo, inúmeras menções ao Facebook e Twitter e, sobretudo, um Ghostface que desta vez grava sua matança em vídeo para, de fato, fazer um filme. “

Para mim o filme acerta em quase tudo, mas escorrega feio nos momentos em que deixa a comédia não só permear,mas de fato conduzir o filme. As piadas providas da ironia são muito mais divertidas do que as escritas de fato como punch-lines exageradas e em alguns momentos a coisa soa um pouco pastelão de mais. Uma das grandes responsáveis por isso é Courtney Cox, que entrega uma Gale Weathers totalmente exagerada e caricata, que ecoa sua quarentona-pateta da série “Cougar Town”, da qual é a atualmente protagonista. On a side note: se em “Pânico 3” era impossível de se explicar o corte de cabelo dela, aqui não há o que justifique a quantidade de plásticas que literalmente deformaram o rosto da atriz; este sim, aspecto genuinamente assustador de “Pânico 4”!


O resultado portanto, faz jus ao legado da série. Os elementos indispensáveis à essência da série estão todos lá: os mesmos personagens, muitas referencias ao gênero, auto-paródia, sustos e talvez o final mais surpreendente da franquia. É difícil prever o quanto o filme funcionará para platéias  que cresceram tendo “Jogos Mortais” como modelo de filme de terror e para aqueles que não sejam letrados no universo de “Pânico”, já que muito da graça está em achar as mil auto-referencias que pipocam em tela e o filme não me parece assustador ou violento o suficiente para agradar puramente como filme de terror. “Pânico 4” não é tenso e assustador mas sim divertido e prazeroso, o que para mim, já fora dos meus anos de adolescência, é bem mais legal!



Site oficial: http://www.scream-4.com/

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

oscar 2011: 127 hours



Depois de muitos meses sem escrever, mudar de mestrado e cruzar o Atlântico duas vezes, finalmente me instalei em um novo país e resolvi fazer um novo post pelo simples motivo de que nas últimas semanas assisti a coisas sensacionais! Estamos em plena “red carpet season” e é nessa época que os estúdios lançam os filmes que consideram ser seus golden tickets para levar algumas estatuetas. Bom para os fãs de cinema, que podem se deliciar com coisas bem bacanas em tela. Os indicados ao Oscar foram anunciados sem grandes surpresas ontem e, coincidentemente no mesmo dia tive o privilégio de ver uma palestra com Simon Beaufoy, o roteirista de “Ou Tudo ou Nada”, “Quem Quer Ser Um Milionário” e do filme sobre qual escrevo hoje, “127 Hours”. Beaufoy viu na tarde do mesmo dia seu nome ser anunciado como um dos candidatos a levar o prêmio de melhor roteiro original.

“127 Hours”, é uma obra bem difícil de enquadrar como um gênero específico. O filme é baseado no livro “Between a Rock and a Hard Place”, do americano Aaron Ralston que relata a história real da qual foi protagonista: durante uma caminhada por um parque nacional desértico em Utah, nos EUA, Aaron sofreu um acidente e acabou tendo a mão prensada por uma rocha, tendo ficado por mais de 5 dias preso dentro de um cânion, isolado. Não é spoiler contar que ele conseguiu escapar, já que a história é de fato real e foi contada em detalhes pelo próprio Aaron, mas vale fazer suspense sobre como ele o faz; a que sacrifícios tem que se submeter para salvar a própria a vida.

O filme é o aguardado projeto seguinte de Danny Boyle, diretor inglês superpremiado pelo overrated “Quem Quer Ser Um Milionário”, que levou os grandes prêmios no Oscar em 2009. Boyle é claramente um diretor indie e usou o status e influência que o Oscar lhe trouxe para conseguir viabilizar este projeto, um filme que dificilmente se enquadraria nos planos de algum grande estúdio, entre outros, por um grande motivo: seu protagonista passa praticamente o filme todo sozinho em cena, contracenando consigo mesmo.

Boyle tem soluções interessantes para burlar o isolamento de Aaron na trama. Ele está fisicamente sozinho, sim, mas mergulhamos a todo instante na mente do personagem. Ecoam lembranças, memórias e até projeções de quem ele foi, é e, se conseguir sair daquela situação, deseja ser. O diretor usa todos os truques frenético-visuais que aprendeu com seus filmes anteriores (“Trainspoting”, “A Praia” e “Slamdog Millionaire” gritam na tela!) como artífico para ilustrar o exagerado espírito aventureiro do jovem. Os primeiros 20 minutos de filme são como um grande especial de esportes radicais de algum canal de TV a cabo: split screens, slow e fast motion usados aos montes, câmeras frenéticas e muita adrenalina. Passada essa etapa e instalado o grande conflito do filme, Boyle passa a usar seus truques para invadir a mente do protagonista e ilustrar em tela o processo de amadurecimento psíquico e espiritual que o permitiram sobreviver àquela situação.

James Franco interpreta Aaron Raltson.
É prazeroso assistir. As coisas estão no lugar certo e a eficiente fotografia de Enrique Chediak e Anthony Dod Mantle funciona. Mas sente-se a presença de Boyle um pouco demais. Não que as pirotequinias dele não sejam eficazes; são. Mas fica a incômoda sensação de mais do mesmo. Já vimos muitos dos artifícios empregados nos outros trabalhos do diretor e a coisa acaba soando como se ele estivesse no automático. O filme tem, no entanto, um grande trunfo: James Franco.

O longa é nitidamente de Franco. Construir uma narrativa que se apóia integralmente em seu protagonista não é fácil e Boyle teve sensibilidade apurada ao escolher seu Aaron e confiar plenamente nele para levar a história. Franco imprime em tela o arco dramático de seu personagem com muita competência e carrega uma ironia, um senso de humor absolutamente necessários para compor este personagem. A trajetória de Aaron é, na verdade, seu amadurecimento. Passa de um jovem arrogantemente inconsequente, a um homem que valoriza as coisas que tem ao seu redor e que busca forças para conquistar as coisas que ainda não tem. James Franco se diverte como o Aaron inicial, aquele que é o “dono do mundo”, o jovem confiante o suficiente para embarcar nesta viagem sozinho. A cena em que entrevista a si mesmo, como se estivesse em um programa de auditório, falando para uma câmera portátil que carrega é genial – é neste momento que revela para a platéia que não contou a ninguém onde estava indo e revela a si mesmo que aquilo muito provavelmente vai lhe custar a sua vida.

É verdade que Danny Boyle (re)utiliza vários dos elementos que já nos mostrou em seus filmes anteriores e que isso pessoalmente me distanciou do filme. Mas é preciso dar o braço a torcer e dizer que esses artifícios de fato funcionam em tela. O filme não se torna monótono em nenhum momento e o diretor consegue imprimir bastante aflição à trama, em especial na aguardada (e ao mesmo tempo supertemida) cena do auto-sacrifício a que Aaron tem que se submeter para escapar daquela situação. Em tempos de inacabáveis “Jogos Mortais”, que extrapolam o uso da violência gráfica e nos dão uma perversa aula de anatomia humana, Boyle nos entrega uma sequência brilhante; explícita na medida certa. Vemos o mínimo e o máximo necessário da carnificina e o resto é trabalho da montagem precisa de Jon Harris, do trabalho de som e da interpretação impecável de James Franco. Difícil não levar às mãos ao rosto ou fincar os dedos na poltrona do cinema.

Franco foi indicado ao prêmio de melhor ator e Danny Boyle correu por fora: não levou indicação de melhor diretor, mas assina o roteiro com Beaufoy e por isso pode levar outro Oscar para casa. Acho bem difícil que o filme ganhe o prêmio de melhor filme, pois briga com produções de peso (sobre as quais vou tentar escrever nos próximos dias). Fica aqui o meu desejo de que Danny Boyle explore outras linguagens em seus próximos filmes. Não há duvidas que é um diretor muito competente e seria bem interessante vê-lo explorar novas maneiras de contar suas histórias.

Indicações ao OSCAR:
Melhor Filme
Melhor Ator – James Franco
Melhor Roteiro Adaptado
Melhor Montagem
Melhor Trilha Sonora Original
Melhor Música - "If I Rise", A.R. Rahman, Rollo Armstrong, Dido