terça-feira, 22 de novembro de 2011

desaparecidos, o filme.



Depois de muito trabalho e muito auto-controle para não gritar a verdade para todo mundo, na última sexta-feira finalmente revelamos para o mundo o DESAPARECIDOS.
O projeto nasceu da incessável mente do meu querido diretor David Schürmann. Há mais ou menos 18 meses atrás, inspirado pelo caso do “cala boca Galvão”, que virou fenômeno no Twitter. Depois de ver vários amigos gringos super chocados achando que os brasileiros estavam de fato se mobilizando na internet para causar a extinção de um pássaro (haha), o David se deu conta de como as coisas, uma vez on-line, são tomadas como fato. Juntando isso à constatação de que no Brasil não ha muito cinema produzido para o público adolescente, ele teve resolveu pegar a idéia maluca de fazer um filme de terror e lançá-lo usando as mesmas ferramentas que o deram a idéia in the first place. Ah, claro, sem grana alguma!
O próximo passo foi reunir uma equipe que fosse entusiasmada e louca o suficiente para comprar a idéia com ele e tirar o projeto do papel. Eu entrei nessa história em Novembro do ano passado, quando me preparava para vir fazer meu mestrado aqui na Inglaterra.
Quem me conhece sabe que sempre fui doido por filmes de terror e suspense. Nos meus anos de pré-adolescência tive uma experiência ótima criando e executando o meu próprio longa de terror, “Tensão”, superinfluenciado pela trilogia “Pânico” e os a nova geração de slashers que  ela gerou nos anos 90.  No filme, editado em esquema beeeem arcaico (ligando um VHS no outro e usando e abusando de muitos PLAY + RECs!), todos os meus queridos amigos/ atores eram brutalmente assassinados por um vilão mascarado. Super divertido de fazer! Imaginem a minha empolgação então quando o David me convidou para um jantar para conversar sobre um projeto secreto que estava desenvolvendo e me contou finalmente o que era o “Desaparecidos”, me chamando para entrar na equipe do filme como editor.
Topei entrar na dança, mas confesso que não imaginava o quão bacana seria fazer parte desse projeto. A natureza totalmente independente do filme é o que fez ser tão legal fazer parte da “família D”, como nos chamávamos entre nós – equipe e elenco. Todos mundo só estava envolvido por que acreditava DE VERDADE no projeto e fazia sua parte com muita vontade! Foi genial! Acabei indo para as filmagens com eles (algo super raro para um editor) e me jogando com todos no meio da mata de Ilhabela em madrugadas chuvosas cheias de gritos, lama e muita boa energia! 
Fiquei editando o filme mais ou menos 2 meses no Brasil e, chegada a hora de me mudar para cá, trouxe comigo um HD e continuei o trabalho daqui. Foram mais 5 meses de infindáveis uploads de cortes novos e reuniões no Skype para chegarmos, 14 cortes depois, no resultado final.
Paralelamente, o pessoal da Schürmann trabalhava a toda mantendo perfis falsos dos personagens no Facebook e interagindo com milhares de pessoas. Nos últimos meses, agora na reta final, entrou em ação a campanha viral propriamente dita, com a criação da festa “Luz, Câmera, Party” (evento raíz do plot no filme), a divulgação do desaparecimento dos nossos personagens – reais no Face – e, agora, a campanha do filme propriamente dito.
Foi muito especial fazer parte desse projeto e espero de verdade que as pessoas se interessem em ir ao cinema prestigiar essa idéia tão inovadora para os moldes do cinema brasileiro. Eu garanto sustos, muita tensão e algumas risadas também.
E, como o filme é de verdade 100% independente e se apoia justamente no conceito de discutir o papel da internet na nossa sociedade, contamos com a ajuda de todos para divulgar esse projeto tão especial, que tiramos do papel com muito esforço e, importante, muita vontade e alegria.
Bons gritos, amigos!
DESAPARECIDOS: 9 DE DEZEMBRO NOS CINEMAS! 





sábado, 16 de abril de 2011

new decade. new rules.


Onze anos depois e me vi correndo – literalmente – para o cinema, ansioso como uma criança, para assistir à “Pânico 4”. Quem me conhece sabe o quanto a trilogia “Scream’ foi celebrada e assistida à exaustão por mim nos meus anos de adolescência. Se alguém me dissesse lá atrás, perto do lançamento do terceiro filme que Wes Craven faria um novo capítulo eu diria que a pessoa estava louca! Arrisco dizer que até ficaria ofendido: “Pânico não é como uma franquia qualquer, que vai se afundar em sequências inacabáveis e sem sentido! A proposta era fazer uma trilogia, e a coisa está acabada!”. Eu estava errado: Craven fez um outro capítulo. Mas eu estava certo também: não é uma sequência qualquer.


Dewey, Sidney e Gale estão de volta.

Para começar é preciso sublinhar o fato de que todos os major players estão de volta: Craven na direção, Neve Campbel, David Arquete e Courtney Cox (que agora volta a ser só Cox, já que se divorciou de David no ano passado) como o trio principal e, muito importante: Kevin Willianson no roteiro. “Scream 3”, de 2000 foi o único da série que Willianson não assinou, passando o bastão para Ehren Kruger por questões de agenda e isso, com o perdão do trocadilho, gritava em tela, fazendo do filme o mais fraco da série. É verdade que todos só devem mesmo ter topado voltar para um quarto filme pois de fato nenhum deles se consagrou como A team de Hollywood e o cheque assinado pela Dimension FIlms deve ter sido altíssimo. Mas nada disso importa: eles estão de volta e entregam o que queremos ver.


A trama leva nossos personagens de volta à Woodsboro. Sidney está de passagem por sua cidade natal para divulgar o livro de auto-ajuda que escreveu apos ter superado tantos eventos traumáticos. Gale e Dewey, agora xerife, levam uma pacata vida de casados. A ex-reporter tenta agora uma frustrada carreira como escritora de ficção. Acontece que a visita de Sidney coincide com o aniversário do chamado massacre de Woodsboro (os eventos relatados no primeiro filme da série) e não poderia haver pretexto melhor para que surja um novo maníaco por trás da máscara do Ghostface tentando fazer o seu filme de terror particular. Somos apresentados a toda uma nova geração de personagens, tendo Jill (personagem de Emma Roberts), prima de Sidney, como figura principal. Seus amigos de high school são a nova leva de vítimas a serem aniquiladas nos 110 minutos de filme – são 21 mortos no total!


A formula é bem batida e já sabemos o que esperar, mas o legal é que em “Pâncio 4”, isso funciona a favor do filme. A série tem na sua raiz a auto-referencia; é isso que fez “Pânico” tão espetacular em 96. O filme destrinchava a estrutura dos filmes de terror enquanto se utilizava exatamente dos elementos que expunha para contar sua história. Isso sempre esteve presente na franquia e, é bom ver, continua super marcante no novo filme também. A grande diferença, é que a auto-referência virou auto-paródia. Enquanto o primeiro e segundo filmes conseguiam ser bem assustadores, a partir do terceiro a série meio que virou casaca: passou a ser mais cômica do que assustadora. Eu não vejo problema nenhum nisso. Acho, aliás, bem inteligente. Ao invés de uma tentativa frustrada de fazer um filme de terror que não dá medo, temos aqui um filme super divertido de se assistir. Os sustos continuam lá e a violência em tempos de torture porn é bem mais explícita; mas não são o grande barato do filme. O legal são são as inúmeras inside jokes e a listagem das regras que, como havia de se esperar, dessa vez dizem respeito a re-boots de franquias.  “O inesperado é o novo clichê”, diz o personagem de Rory Culkin.

A nova geração de vítimas em matéria da Entertainment Weekly.

Willianson conhece sua platéia e sabe o que está fazendo. Entrega uma genial sequência de abertura, obrigatória em um filme da série desde a insuperável  morte de Drew Barimore em Pânico. Cheia de participações especiais super divertidas (fãs de True Blood vão adorar) a cena de abertura diz muito sobre o tom de “Pânico 4”: surpreendende, engraçadíssima e cheia de sustos. Passado o letreiro inicial, vemos Willianson e Craven modernizarem a franquia trazendo inúmeras gadgets tecnológicas para dentro da trama: temos live streamings, iPhones a rodo, inúmeras menções ao Facebook e Twitter e, sobretudo, um Ghostface que desta vez grava sua matança em vídeo para, de fato, fazer um filme. “

Para mim o filme acerta em quase tudo, mas escorrega feio nos momentos em que deixa a comédia não só permear,mas de fato conduzir o filme. As piadas providas da ironia são muito mais divertidas do que as escritas de fato como punch-lines exageradas e em alguns momentos a coisa soa um pouco pastelão de mais. Uma das grandes responsáveis por isso é Courtney Cox, que entrega uma Gale Weathers totalmente exagerada e caricata, que ecoa sua quarentona-pateta da série “Cougar Town”, da qual é a atualmente protagonista. On a side note: se em “Pânico 3” era impossível de se explicar o corte de cabelo dela, aqui não há o que justifique a quantidade de plásticas que literalmente deformaram o rosto da atriz; este sim, aspecto genuinamente assustador de “Pânico 4”!


O resultado portanto, faz jus ao legado da série. Os elementos indispensáveis à essência da série estão todos lá: os mesmos personagens, muitas referencias ao gênero, auto-paródia, sustos e talvez o final mais surpreendente da franquia. É difícil prever o quanto o filme funcionará para platéias  que cresceram tendo “Jogos Mortais” como modelo de filme de terror e para aqueles que não sejam letrados no universo de “Pânico”, já que muito da graça está em achar as mil auto-referencias que pipocam em tela e o filme não me parece assustador ou violento o suficiente para agradar puramente como filme de terror. “Pânico 4” não é tenso e assustador mas sim divertido e prazeroso, o que para mim, já fora dos meus anos de adolescência, é bem mais legal!



Site oficial: http://www.scream-4.com/

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

oscar 2011: 127 hours



Depois de muitos meses sem escrever, mudar de mestrado e cruzar o Atlântico duas vezes, finalmente me instalei em um novo país e resolvi fazer um novo post pelo simples motivo de que nas últimas semanas assisti a coisas sensacionais! Estamos em plena “red carpet season” e é nessa época que os estúdios lançam os filmes que consideram ser seus golden tickets para levar algumas estatuetas. Bom para os fãs de cinema, que podem se deliciar com coisas bem bacanas em tela. Os indicados ao Oscar foram anunciados sem grandes surpresas ontem e, coincidentemente no mesmo dia tive o privilégio de ver uma palestra com Simon Beaufoy, o roteirista de “Ou Tudo ou Nada”, “Quem Quer Ser Um Milionário” e do filme sobre qual escrevo hoje, “127 Hours”. Beaufoy viu na tarde do mesmo dia seu nome ser anunciado como um dos candidatos a levar o prêmio de melhor roteiro original.

“127 Hours”, é uma obra bem difícil de enquadrar como um gênero específico. O filme é baseado no livro “Between a Rock and a Hard Place”, do americano Aaron Ralston que relata a história real da qual foi protagonista: durante uma caminhada por um parque nacional desértico em Utah, nos EUA, Aaron sofreu um acidente e acabou tendo a mão prensada por uma rocha, tendo ficado por mais de 5 dias preso dentro de um cânion, isolado. Não é spoiler contar que ele conseguiu escapar, já que a história é de fato real e foi contada em detalhes pelo próprio Aaron, mas vale fazer suspense sobre como ele o faz; a que sacrifícios tem que se submeter para salvar a própria a vida.

O filme é o aguardado projeto seguinte de Danny Boyle, diretor inglês superpremiado pelo overrated “Quem Quer Ser Um Milionário”, que levou os grandes prêmios no Oscar em 2009. Boyle é claramente um diretor indie e usou o status e influência que o Oscar lhe trouxe para conseguir viabilizar este projeto, um filme que dificilmente se enquadraria nos planos de algum grande estúdio, entre outros, por um grande motivo: seu protagonista passa praticamente o filme todo sozinho em cena, contracenando consigo mesmo.

Boyle tem soluções interessantes para burlar o isolamento de Aaron na trama. Ele está fisicamente sozinho, sim, mas mergulhamos a todo instante na mente do personagem. Ecoam lembranças, memórias e até projeções de quem ele foi, é e, se conseguir sair daquela situação, deseja ser. O diretor usa todos os truques frenético-visuais que aprendeu com seus filmes anteriores (“Trainspoting”, “A Praia” e “Slamdog Millionaire” gritam na tela!) como artífico para ilustrar o exagerado espírito aventureiro do jovem. Os primeiros 20 minutos de filme são como um grande especial de esportes radicais de algum canal de TV a cabo: split screens, slow e fast motion usados aos montes, câmeras frenéticas e muita adrenalina. Passada essa etapa e instalado o grande conflito do filme, Boyle passa a usar seus truques para invadir a mente do protagonista e ilustrar em tela o processo de amadurecimento psíquico e espiritual que o permitiram sobreviver àquela situação.

James Franco interpreta Aaron Raltson.
É prazeroso assistir. As coisas estão no lugar certo e a eficiente fotografia de Enrique Chediak e Anthony Dod Mantle funciona. Mas sente-se a presença de Boyle um pouco demais. Não que as pirotequinias dele não sejam eficazes; são. Mas fica a incômoda sensação de mais do mesmo. Já vimos muitos dos artifícios empregados nos outros trabalhos do diretor e a coisa acaba soando como se ele estivesse no automático. O filme tem, no entanto, um grande trunfo: James Franco.

O longa é nitidamente de Franco. Construir uma narrativa que se apóia integralmente em seu protagonista não é fácil e Boyle teve sensibilidade apurada ao escolher seu Aaron e confiar plenamente nele para levar a história. Franco imprime em tela o arco dramático de seu personagem com muita competência e carrega uma ironia, um senso de humor absolutamente necessários para compor este personagem. A trajetória de Aaron é, na verdade, seu amadurecimento. Passa de um jovem arrogantemente inconsequente, a um homem que valoriza as coisas que tem ao seu redor e que busca forças para conquistar as coisas que ainda não tem. James Franco se diverte como o Aaron inicial, aquele que é o “dono do mundo”, o jovem confiante o suficiente para embarcar nesta viagem sozinho. A cena em que entrevista a si mesmo, como se estivesse em um programa de auditório, falando para uma câmera portátil que carrega é genial – é neste momento que revela para a platéia que não contou a ninguém onde estava indo e revela a si mesmo que aquilo muito provavelmente vai lhe custar a sua vida.

É verdade que Danny Boyle (re)utiliza vários dos elementos que já nos mostrou em seus filmes anteriores e que isso pessoalmente me distanciou do filme. Mas é preciso dar o braço a torcer e dizer que esses artifícios de fato funcionam em tela. O filme não se torna monótono em nenhum momento e o diretor consegue imprimir bastante aflição à trama, em especial na aguardada (e ao mesmo tempo supertemida) cena do auto-sacrifício a que Aaron tem que se submeter para escapar daquela situação. Em tempos de inacabáveis “Jogos Mortais”, que extrapolam o uso da violência gráfica e nos dão uma perversa aula de anatomia humana, Boyle nos entrega uma sequência brilhante; explícita na medida certa. Vemos o mínimo e o máximo necessário da carnificina e o resto é trabalho da montagem precisa de Jon Harris, do trabalho de som e da interpretação impecável de James Franco. Difícil não levar às mãos ao rosto ou fincar os dedos na poltrona do cinema.

Franco foi indicado ao prêmio de melhor ator e Danny Boyle correu por fora: não levou indicação de melhor diretor, mas assina o roteiro com Beaufoy e por isso pode levar outro Oscar para casa. Acho bem difícil que o filme ganhe o prêmio de melhor filme, pois briga com produções de peso (sobre as quais vou tentar escrever nos próximos dias). Fica aqui o meu desejo de que Danny Boyle explore outras linguagens em seus próximos filmes. Não há duvidas que é um diretor muito competente e seria bem interessante vê-lo explorar novas maneiras de contar suas histórias.

Indicações ao OSCAR:
Melhor Filme
Melhor Ator – James Franco
Melhor Roteiro Adaptado
Melhor Montagem
Melhor Trilha Sonora Original
Melhor Música - "If I Rise", A.R. Rahman, Rollo Armstrong, Dido




sexta-feira, 10 de setembro de 2010

hitRECord: ponto para Gordon-Levitt!



De tempos em tempos surge algo que é tão legal que é quase impossível ignorar.
Hoje descobri o que pra mim é claramente uma dessas coisas: o hitRECord.ogr.

O hitRECord é um projeto encabeçado pelo ator americano Joseph Gordon-Levitt. Esse cara já tinha o meu respeito. Desde que surgiu ainda bem novinho fazendo comédias bobinhas como “10 Things I Hate About You” e a série pastelão “3rd Rock From The Sun” ele já mostrava mais talento do que o adolescente ator/ modelo/ manequim habitual. Foi crescendo e suas escolhas ficando mais interessantes... Entre outras coisas, entregou performance bem intensa em “Stoploss”, drama sobre soldados americanos re-convocados para a guerra do Iraque, ofuscando gente como Ryan Phillippe  e Channing Tatum. Depois topou a bobageira “G.I. Joe”, o que justificou como pura diversão, já que era super fã do brinquedo quando criança e tinha o sonho de fazer uma superprodução deste porte (perdoado, Joseph). Mais recentemente, estrelou o instant-classic inde cult “500 Days of Summer” e o genial “A Origem”.
Com este currículo, ele poderia fazer o que 99% dos jovens atores americanos andam fazendo: mais filmes, cada vez mais cretinos, por cada vez mais dinheiro e passando cada vez mais tempo em alguma re-hab qualquer da Califórnia. Mas ele não fez isso; ao invés, fez o hitRECord.
O projeto é uma produtora áudio-visual on-line que usa os conceitos mais legais que a internet trouxe para nossas vidas: liberdade e coletividade. A coisa funciona assim: você se cadastra no site, navega pelos projetos em aberto e pode colaborar da forma que for. Pode dar sugestões para o texto, compor imagens que entram na obra, fazer a trilha da peça, etc, etc, etc... O lema dos caras é: isso é de todos e não é de ninguém. Qualquer um pode entrar, baixar as obras e fazer re-mixes, novas versões, releituras... É genial!
Gordon-Levitt escolhe as obras com mais potencial e usa sua influência na indústria mainstream para divulgar as peças e vender os projetos. Quer mais? Qualquer lucro obtido com essas peças é dividido entre as pessoas que colaboraram (50% fica com a produtora, que precisa se sustentar). E as peças não se restringem a curtas-metragens. Poesia, musica, artes visuais e o que mais se puder criar tem espaço e são muito bem vindos.
A idéia é genial, super atual e garante uso do potencial criativo de todos os envolvidos em nível bem, bem elevado. Muito bacana. Vale a pena dar uma olhada no site, nas peças já prontas e – por que não? – se inscrever também.
Abaixo, o supercute curta-metragem "Morgan and Destiny's Eleventeeth Date - The Zeppelin Zoo", produzido no projeto.



domingo, 29 de agosto de 2010

zémaria: supresa boa!


Ontem acabei caindo – meio que sem querer e mais uma vez!– no Hot Hot, um dos clubes novos mais legais aqui de São Paulo.

Mais sem querer ainda foi assistir ao show de uma banda que gostei bastante: ZÉMARIA.


Os caras fazem um som megamudérrrno, megadançante e megadivertido! Mistura bem legal de batidas eletrônicas com rock n’roll, com vocal bem presente de Sanny Lys. Vi sites definindo o som deles como electro-tech-disco-punk-house! Haha... Ou seja: mixxxxxtura total! Mas mistura fina!

A banda é de Vitória, ES e é mais um daqueles casos de artistas brasileiros que fazem sucesso lá fora e que, infelizmente, não são muito conhecidos por aqui, apesar de terem tocados nos maiores clubes do pais e em festas como o extinto Skol Beats. Já lançaram 2 CDs e 2 EPs, fizeram 7 turnês pela Europa e agora parece que começam a conquistar mais espaço no Brasil: estão concorrendo na categoria “Música Eletrônica” no VMB deste ano.

Impossível não pensar no CSS, mas os caras ainda mantém uma aura mais pé no chão, sem todo o hype hiperpresente no som e shows do Cansei. Me diverti horrores mesmo sem conhecer nenhuma das músicas. Eles mandaram mash-ups de covers improváveis como “Stay In the Light” e “Policia” além de tocarem várias musicas próprias. A pista, cheia de conterrâneos que vieram prestigiar e várias pessoas que como eu não conheciam o trabalho deles não parou um segundo.

Vale a pena dar uma olhada:




quinta-feira, 26 de agosto de 2010

o surto de m. night shayamalan


M. Night Shayamalan perdeu a cabeça de vez.

Não consigo me lembrar de nenhum outro diretor que teve uma carreira tão dividida quanto a dele. Pra mim, são duas fazes muito claras: os quatro primeiros filmes, “O Sexto Sentido”, “Corpo Fechado”, “Sinais” e “A Vila” representam os acertos. Filmes de roteiro esperto – todos escritos por ele – filmados de maneira muito interessante, que mostravam domínio do diretor sobre a linguagem cinematográfica. São filmes nitidamente bem pensados e realizados; obras em que os elementos como música, fotografia e direção de arte são explorados de maneira muito precisa.

A segunda (e infelizmente atual) fase dele concentra 3 grandes erros e se iniciou com o estranhíssimo “A Dama na Água”. Shayamalan tinha a Buena Vista (que faz parte do grupo Disney) como parceira nos seus 4 primeiros projetos. “O Sexto Sentido” foi um enorme sucesso e o projetou como uma das grandes apostas da nova geração de diretores – lembro de ler algumas matérias que chegaram a compará-lo (mantidas as devidas proporções, é claro!) a Alfred Hitchcock e Steven Spielberg. Quando teve o insight sobre a trama de “Dama”, a estúdio tentou convencê-lo a desistir do projeto. O diretor lutou pelo que acreditava, rompeu com a Disney e... estava errado. O filme foi um fracasso nos EUA e, somando a bilheteria do mundo todo deu irrisórios 2 milhões de lucro para a Warner, nova parceira do diretor.


 O filme é uma fábula moderna sobre uma sereia (Brice Dallas Howard) que aparece na piscina de um condomínio na Filadélfia, nos EUA. Paul Giamatti faz o zelador do condomínio, que descobre a criatura mítica e embarca com ela em uma jornada para tentar ajudá-la a retornar para seu mundo e de quebra ainda identificar um misterioso escritor, que supostamente escreverá um livro que irá beneficiar a humanidade. Tudo muito criativo, é verdade. Mas o filme sublinhava o que eu vejo como a pior característica das obras dele: exigir que o espectador compre um universo com regras muito específicas; muitas delas bem difíceis de engolir. Quando faz isso de maneira inteligente (como em “A Vila” e “Sinais”), nós nos envolvemos com a história e relevamos coisas que poderiam ser quase enquadradas como trapaça. Mas “Dama” elevou isso à nona potencia. Era uma história de fantasia feita para adultos que se passava num ambiente realista, mas existia apoiada em aspectos nada críveis. Não dava para comprar.


Zooey Deschanel e Mark Wahlberg pagam mico em "The Happening"
O próximo filme, “Fim dos Tempos”, foi um susto pra mim. Achava que “Dama” tinha sido um deslize, mas esse projeto estrelado por Mark Wahlberg e Zooey Deschanel sobre um vírus misterioso que se alastra pela humanidade piorou muito a situação. O filme soa em vários momentos como uma comédia, mas faz humor involuntariamente; quando deveríamos estar absolutamente assustados e tocados pela jornada dos protagonistas, estamos na verdade chocados com a canastrice gritante. Assisti uma só vez, confesso. Mas fiquei mesmo com a sensação de que quase nada se salva ali.

Isso nos traz ao novo filme dele “O Último Mestre do Ar”, que estreou na última sexta-feira. Baseado em na série de animação “Avatar: The Last Airbender” do canal Nickelodeon, o filme sempre me pareceu uma escolha estanha de Shayamalan. A campanha de marketing é bem vaga e misteriosa e para quem não é familiarizado com a série de TV – como eu – o filme foi vendido de forma enganosa: parecia um épico oriental. É na verdade, um filme infanto-juvenil. Até aí, tudo bem. O problema é que é um filme infanto-juvenil muito, muito fraco! É quase impossível de acreditar que a mesma mente por trás de “O Sexto Sentido” possa ter realizado o que vemos em “The Last Airbender”. Fazia muito tempo que não assistia algo tão chato, arrastado e sem emoção – adjetivos que tem que passar longe de qualquer filme e especialmente de histórias de aventura e fantasia. 


A história: Aang, uma espécie de monge budista é identificado como o Avatar, a reencarnação de uma divindade única, capaz de controlar os quatro elementos: Terra, Ar, Fogo e Água. Estamos falando de um mundo alternativo; não estamos na Terra, e este planeta não-identificado é dividido por diferentes nações, cada uma com um dos elementos como “força” motriz e cidadãos que conseguem controlar esses elementos. A nação do Fogo (quem mais?) está atacando as demais e luta pela hegemonia da planeta. O Avatar, é claro, é o único que pode trazer o equilíbrio de volta. Congelado em uma bolha de ar (!) por cem anos, ele é finalmente libertado e, ainda como um menino, terá que aceitar seu chamado divino e lutar pela paz no planeta.  

A premissa é até interessante e Shayamalan teve nas mãos uma grande oportunidade: pela primeira vez estava contando uma história que se desenrola assumidamente num universo fantasioso; aqui, não nos sentiríamos forçados a comprar sereias que vivem em piscinas e homens com super poderes andando entre nós (como em “Corpo Fechado”). Tudo pode acontecer em uma terra de fantasia! Mas Shayamalan erra feio ao nos situar neste universo que criou: joga um volume enorme de informação a todo tempo e, por ser um filme para público mais jovem, repete essas informações over and over again! Subestima o espectador num grau elevadíssimo, colocando voice overs explicando a cena que estamos vendo diante dos nossos olhos e, de quebra, muitas vezes ainda usando letreiros para reforçar o que está acontecendo. A platéia não é idiota e, aprendi nas aulas de roteiro e direção, tratar a mesma como tal é um dos maiores erros que um filme pode cometer.



Noah Riger como Aang em momento nervosinho.

Jackson Rathbone (Sokka) e Nicola Peltz (Katara): irmãos chatinhos.
Além disso, o elenco escolhido é fraco e apático demais! Não dá para se envolver com nenhum deles, em momento algum. Falta emoção e, num filme que se propõe a levantar inúmeras questões existências dos personagens isso é inadmissível. Como sentir a angustia de um personagem se ele não transparece emoção? Como temer e torcer por este personagem se você simplesmente não se importa como ele? Não há carisma em nenhum dos atores e personagens principais. Jackson Rathbone (o Jasper da série “Crepúsculo”) confirma sua incompetência e entra e sai de cena como um personagem secundário patético, sem o mínimo propósito para a história. Nicola Peltz, que faz sua irmã, não convence em nenhuma cena e chega a ser irritante em vários momentos. Fora eles ainda temos Noah Ringer, que interpreta o Avatar e não é de todo mal, mas simplesmente não consegue “vender” a profundidade emocional que seu personagem deveria conter. Fechando com chave de ouro (NOT), está Dev Patel, que interpreta o filho do líder do povo de Fogo, exilado pelo pai até que consiga localizar e capturar o Avatar. É impossível olhar para ele e não lembrar de seu Jamal (de “Quem Quer Ser um Milionário”), o que trabalha contra ele, que tenta aqui emplacar como vilão. 


Dev Patel como Zuco: vilão bonzinho.
As cenas de luta são o ponto alto da obra. É bem interessante o modo como os “benders” manipulam os elementos e os usam como forma de defesa e ataque. As cenas que incluem Água e Ar são especialmente bonitas e vale pontuar um plano seqüência de alguns minutos bem executado em uma das batalhas. Mas apesar de bem realizados, nenhum desses efeitos é groundbreaking. Não há nada que não tenhamos visto antes muitas (e muitas!) vezes.

Se é que dá para piorar a situação, “Airbender” ainda consegue ser o exemplo perfeito para ilustrar uma atual polêmica em Hollywood: o mau uso do 3D. A “nova” tecnologia surgiu com força como a arma dos executivos para levarem as pessoas ao cinema em tempos de donwloads grátis e DVDs pirata no metrô. E a coisa tem funcionado, “Avatar” fez a maior bilheteria da história para comprovar. Daí prática tão comum entre os estúdios e que tem gerado a tal polêmica: a conversão de filmes idealizados e rodados em 2D para a exibição em 3 dimensões. O propósito é um só: $$$! O 3D, que em muitas produções tem sido usado como ferramenta estética e narrativa; filmes pensados para serem feitos desta forma, passou a ser usado com banalidade e com resultado estético bem sem graça. “O Último Mestre do Ar” faz justamente isso: se vende como 3D somente para atrair gente ao cinema e o que vemos é um espetáculo opaco, desinteressante e gratuito.

Shayamalan: rindo de quê?
 Em suma: uma catástrofe. Shayamalan realmente perdeu completamente a noção e se afunda cada vez mais profundamente a cada trabalho concluído. Uma grande pena. 

O filme não tem feito carreira brilhante nos EUA, mas já acumulou mais de 225 milhões de dólares no mundo todo, tento custado inacreditáveis 150. Isso deve garantir a continuação da saga - o primeiro filme se encerra já deixando tudo armado para a sequência. Devem vir mais dois filmes sobre os quais você certamente não vai ler neste blog.



quarta-feira, 25 de agosto de 2010

let me in: um filme necessário?






Uma das coisas mais comuns em Hollywood: comprar os direitos de filmes estrangeiros que surpreenderam no mercado internacional e produzir versões próprias, do jeito que o americano gosta de ver. Foi assim com os japoneses "O Chamado" e "O Grito", o espanhol "REC" e tantos outros. Esses três, no entanto, são obras de terror mais tradicionais, de certa forma mais fáceis de se adaptar. Agora os americanos estão pisando em território perigoso: escolheram o sueco “Låt Den Rätte Komma In" (aqui lançado como “Deixa Ela Entrar”), de 2008 e entregam o versão deles com este "Let Me In". 

Pessoalmente acho assustadora a idéia do que um estúdio pode ter feito com essa história. A trama gira em torno do que talvez seja uma das mais improváveis e genuínas histórias de amor já contadas no cinema: uma menina e um garoto pré-adolescentes que se encantam um pelo outro. O problema: ela é uma vampira. Não soa muito original em tempos de "Crepúsculo" over-saturando essa mitologia em todos os cantos da nossa vida... Mas não se engane: o envolvimento dos personagens de “Deixa Ela Entrar” não podia ser mais diferentes do amor idealizado e pudico de Bella e Edward. 

A qualidade da interpretação de Lina Leandersson e Kåre Hedebrant que dão vida ao estranho casal é assustadora. Existe algo absolutamente gelado e ao mesmo tempo incrivelmente doce no olhar dos dois e o filme contrasta passagens de delicadeza intensa com cenas de horror extremamente violentas e apavorantes. E são justamente esse clima gelado, o ritmo lento e envolvente e a profundidade da relação dos dois que me pergunto se sobreviverão nas mãos do estúdio americano. 

O escolhido para tocar o projeto foi Matt Reeves, que estreou com o competente "Cloverfield", sobre aquele mostro misterioso que destruiu NY pela milésima vez. Eu não duvido do talento do cara, longe disso. Só fico aflito em pensar como ele vai lidar com o tom sóbrio do filme original. "Cloverfield" foi todo rodado em digital, com a intenção de acompanhar um grupo de amigos que tenta sobreviver ao ataque enquanto registra tudo com uma câmera amadora. Tem aquela qualidade realista de produções como "A Bruxa de Blair" e, mais recentemente, "Atividade Paranormal". Funciona muito bem! Se o cara tivesse sido escalado, por exemplo, para dirigir "Quarentena" (a versão americana de “REC”, que eu citei aqui acima), o filme provavelmente teria ficado muuuuuito mais interessante do que acabou ficando. Mas falamos aqui em um filme de planos longos e ritmo desacelerado; uma história construída com maestria e pleno domínio da linguagem cinemática. Um filme calmo e extremamente profundo. Ou seja, totalmente antagônico ao frenesi estressante grita de “Cloverfield” a todo o tempo. 




Numa coisa, no entanto, Reeves: escalou a genial Chloe Moretz para interpretar a vampira Abby depois de ver o trabalho excepcional da menina como a heroína Hit Girl em "Kick-Ass". Não consigo pensar em nenhuma outra atriz desta idade que pudesse dar conta do recado e parece que a menina entrega uma performance digna do papel. Ela, aliás, deve estar fazendo muita terapia fora das telas (se não está, deveria!), por que parece só se envolver em papeis que a obrigam a lidar com um universo muito mais maduro e violento do que deveria para seus 13 anos. Fica a dúvida: será que o jovem australiano Kodi Smit-McPhee está também à altura de Kåre Hedebrant, o ator original? Será que a química entre os protagonista é tão boa quanto a obra exige que seja? 

Os atores Kodi Smit McPhee e Chole Moretz em cena de "Let Me In".


O trailer de “Let Me In” (acima) já dá sinais de que a coisa toda foi bem anabolizada e deve focar mais nos momentos de terror do que de afeto . Já nota-se outro estilo; outro ritmo. De qualquer forma, deve valer como exercício de comparação e possivelmente como forma de se constatar (mais uma vez): certos filmes são tão especiais que não deveriam ser tocados. Jamais.



O trailer do filme original.