quarta-feira, 25 de agosto de 2010

let me in: um filme necessário?






Uma das coisas mais comuns em Hollywood: comprar os direitos de filmes estrangeiros que surpreenderam no mercado internacional e produzir versões próprias, do jeito que o americano gosta de ver. Foi assim com os japoneses "O Chamado" e "O Grito", o espanhol "REC" e tantos outros. Esses três, no entanto, são obras de terror mais tradicionais, de certa forma mais fáceis de se adaptar. Agora os americanos estão pisando em território perigoso: escolheram o sueco “Låt Den Rätte Komma In" (aqui lançado como “Deixa Ela Entrar”), de 2008 e entregam o versão deles com este "Let Me In". 

Pessoalmente acho assustadora a idéia do que um estúdio pode ter feito com essa história. A trama gira em torno do que talvez seja uma das mais improváveis e genuínas histórias de amor já contadas no cinema: uma menina e um garoto pré-adolescentes que se encantam um pelo outro. O problema: ela é uma vampira. Não soa muito original em tempos de "Crepúsculo" over-saturando essa mitologia em todos os cantos da nossa vida... Mas não se engane: o envolvimento dos personagens de “Deixa Ela Entrar” não podia ser mais diferentes do amor idealizado e pudico de Bella e Edward. 

A qualidade da interpretação de Lina Leandersson e Kåre Hedebrant que dão vida ao estranho casal é assustadora. Existe algo absolutamente gelado e ao mesmo tempo incrivelmente doce no olhar dos dois e o filme contrasta passagens de delicadeza intensa com cenas de horror extremamente violentas e apavorantes. E são justamente esse clima gelado, o ritmo lento e envolvente e a profundidade da relação dos dois que me pergunto se sobreviverão nas mãos do estúdio americano. 

O escolhido para tocar o projeto foi Matt Reeves, que estreou com o competente "Cloverfield", sobre aquele mostro misterioso que destruiu NY pela milésima vez. Eu não duvido do talento do cara, longe disso. Só fico aflito em pensar como ele vai lidar com o tom sóbrio do filme original. "Cloverfield" foi todo rodado em digital, com a intenção de acompanhar um grupo de amigos que tenta sobreviver ao ataque enquanto registra tudo com uma câmera amadora. Tem aquela qualidade realista de produções como "A Bruxa de Blair" e, mais recentemente, "Atividade Paranormal". Funciona muito bem! Se o cara tivesse sido escalado, por exemplo, para dirigir "Quarentena" (a versão americana de “REC”, que eu citei aqui acima), o filme provavelmente teria ficado muuuuuito mais interessante do que acabou ficando. Mas falamos aqui em um filme de planos longos e ritmo desacelerado; uma história construída com maestria e pleno domínio da linguagem cinemática. Um filme calmo e extremamente profundo. Ou seja, totalmente antagônico ao frenesi estressante grita de “Cloverfield” a todo o tempo. 




Numa coisa, no entanto, Reeves: escalou a genial Chloe Moretz para interpretar a vampira Abby depois de ver o trabalho excepcional da menina como a heroína Hit Girl em "Kick-Ass". Não consigo pensar em nenhuma outra atriz desta idade que pudesse dar conta do recado e parece que a menina entrega uma performance digna do papel. Ela, aliás, deve estar fazendo muita terapia fora das telas (se não está, deveria!), por que parece só se envolver em papeis que a obrigam a lidar com um universo muito mais maduro e violento do que deveria para seus 13 anos. Fica a dúvida: será que o jovem australiano Kodi Smit-McPhee está também à altura de Kåre Hedebrant, o ator original? Será que a química entre os protagonista é tão boa quanto a obra exige que seja? 

Os atores Kodi Smit McPhee e Chole Moretz em cena de "Let Me In".


O trailer de “Let Me In” (acima) já dá sinais de que a coisa toda foi bem anabolizada e deve focar mais nos momentos de terror do que de afeto . Já nota-se outro estilo; outro ritmo. De qualquer forma, deve valer como exercício de comparação e possivelmente como forma de se constatar (mais uma vez): certos filmes são tão especiais que não deveriam ser tocados. Jamais.



O trailer do filme original.

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